segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Da simplicidade da mentira, e outras incongruências

Já se perguntaram por que é tão fácil, hoje em dia, se tirar uma mentira de dentro do bolso, para dar um remendo em uma situação onde nem mesmo isso seria necessário? Por que, em um mundo onde a abertura das mentes é um estandarte que todos defendem com um puritanismo quase santo, parece ser tão importante que as pessoas se protejam umas das outras, e umas às outras, de situações onde a verdade - suja, fria, e dolorosa verdade - é tudo o que todos querem?

Onde, em toda a cadeia cromossômica do homem, há de se enxertar a verdade como uma situação não démodé, e que não se precisa de experiência para ser propagada como um dos reagentes da cura do mundo?

Há quem diga, porém, que a verdade - essa norma kelseniana - dói, e, numa falsa máscara de conforto do placebo da mentira, diz a mais pura verdade.

Sim, sim, a verdade realmente dói; ela dá vazão às lágrimas, estoura os sentimentos, infla os ânimos e desfigura o cenho - além de re-estabelecer conceitos . É de se adimrar, no entanto, que esta dói mais em quem a diz do que em todos os outros que possam ser atingidos pela propagação dela.

Antitético? Sim, e não, ao mesmo tempo.

Ela dói em quem a ouve - naturalmente - por entender que tudo o que vira, ouvira, sentira, vivera, não era nada mais do que uma ilusão - e, antes que isto se torne beato demais, esta ilusão não é sinônimo de maldade.

Ao mesmo tempo, ela dói em quem a profere por mostrar uma face ou uma condição que este quisera esconder, galgando assim a formação de uma imagem diferente daquela que tem sobre si; "a origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros", disse Anais Nin, talvez num dos maiores momento de lucidez da própria humanidade.

Então, apesar de tudo isto, é de se perguntar:

-Por que, com tudo isto, o que sempre desejamos é somente ela, a verdade?

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